Dr Eduardo Adnet


Médico Psiquiatra e Nutrólogo

 

Obesidade, Resistência à Insulina e Diabetes Melito


Obesidade, Resistência à Insulina e Diabetes Melito. Combatendo as doenças em sua origem.

Sumário

A Insulina e o Glucagon estão entre os principais hormônios reguladores do nosso metabolismo. A palavra Insulina pode suscitar em nós uma imediata relação mental entre Insulina e Diabetes Melito, e esta é uma associação absolutamente válida, especialmente em nossos dias.

Controlar os níveis de glicose sanguínea é a função principal da Insulina e do Glucagon. Sendo esses mecanismos completamente autônomos (não possuímos influência mental sobre eles), o que podemos fazer em relação às disfunções relacionadas ao papel da Insulina e do Glucagon? O primeiro passo é compreender o básico desses processos

Muitas pessoas, no mundo inteiro, com enfoque para as portadoras de doenças cardíacas, diabetes II (ou Diabetes mellitus do tipo II), hipertensão arterial, hiperlipidemia (elevação do colesterol e dos triglicerídeos no sangue), e muitos obesos, possuem, muitas delas, uma disfunção nos receptores de insulina. Essa disfunção é frequentemente herdada e piora com a idade, com o estresse, ou ainda na presença de diversas outras doenças. Também após anos de consumo continuado de Sacarose (Açúcar Branco) e Amido, para quem possui esta tendência familiar de disfunção nos receptores de insulina, a situação tende a piorar. São duas as principais condições médicas associadas a esta disfunção nos receptores de insulina: A Resistência à Insulina e o Diabetes Melito do tipo II.

Na medida em que os receptores de insulina vão se tornando disfuncionais, a resistência à insulina vai se instalando progressivamente. Por se tratar de uma necessidade vital transportar a Glicose para dentro das células, e removê-la da corrente sanguínea, o pâncreas tenderá a produzir cada vez mais insulina, buscando a resposta desses receptores. Desta forma, inicia-se um ciclo vicioso que requer cada vez mais insulina para manter o sistema ativo. Chega um momento, entretanto, em que determinadas pessoas se tornam tão resistentes à insulina que a quantidade requerida desse hormônio para manter esse sistema responsivo já é mais do que o indivíduo consegue produzir; então a pessoa se torna diabética. O Diabetes Melito é a resistência aos receptores de insulina acompanhada de uma insuficiência na produção do hormônio. Na Resistência à Insulina nem sempre ocorre a insuficiência da produção de insulina pelo pâncreas, mas a disfunção desses receptores é marcante. Em ambas as doenças, a insulina é sempre, e cada vez mais, requerida.

O excesso de insulina que ocorre na Resistência à Insulina estimula uma grande variedade de outros processos metabólicos: Estimula a retenção de sal (cloreto de sódio) pelos rins; estimula a produção de gorduras no fígado; aumenta a quantidade dos triglicerídeos; diminui a elasticidade da porção muscular das paredes arteriais; aumenta o risco de hipertensão arterial; e envia mensagens para as células de gordura (adipócitos) para que armazenem cada vez mais gordura.

A Obesidade é uma condição frequente na Resistência à Insulina, havendo falta de consenso entre os pesquisadores se é a Obesidade que conduz à Resistência à Insulina, ou se é a Resistência à Insulina que conduz à Obesidade. De qualquer modo, ao se combater a Resistência à Insulina, combate-se a Obesidade, porém não se pode afirmar com plena certeza se o combate à Obesidade isoladamente resultará na cessação dos processos associados à Resistência à Insulina. Diversos fatores colaboram para esses questionamentos, dentre eles está o elevado número de indivíduos resistentes à insulina que não são e nunca foram obesos. Por outro lado, há muitos indivíduos obesos que não se tornam resistentes à insulina, e nem diabéticos, e isso até o fim de suas vidas, alguns deles fartamente longevos.

As ações da insulina são contrabalanceadas por outro hormônio diretamente envolvido em nosso metabolismo, o Glucagon, ambos produzidos pelo nosso pâncreas. Dentre outras ações, o glucagon aumenta os níveis de glicose no sangue e promove a liberação de gorduras estocadas para serem utilizadas como combustível energético através do nosso sangue. Contudo, quando os níveis de insulina sanguínea estão desregulados pela resistência à insulina, essa disfunção pode suprimir a adequada ação do glucagon.

Uma vez que são os alimentos que solicitam ao pâncreas a produção destes dois hormônios, insulina e glucagon (pelas células beta e alfa das ilhotas de Langerhans do pâncreas, respectivamente), é importante, para obesos e resistentes à insulina, que seja elaborada uma estrutura alimentar que maximize a liberação de glucagon e minimize a liberação de insulina, restabelecendo, dentro do possível, o equilíbrio natural entre estes dois hormônios pancreáticos.

Nessas condições, as ações do glucagon se tornarão mais ativas facilitando e promovendo o restabelecimento da sensibilidade dos receptores de insulina. Uma vez que este processo seja atingido, e mantido, diversos problemas relacionados à resistência à insulina tendem a regredir, ou mesmo a cessar. Se elevados, os níveis sanguíneos de colesterol e de triglicerídeos tendem a baixar e a queima da gordura estocada leva à perda de peso.
Notemos, contudo, que aqui o foco da ação pretendida não é sobre a obesidade, primariamente, mas sobre a resistência à insulina. Quando a nova estrutura alimentar que maximiza a liberação de glucagon e minimiza a liberação de insulina é atingida, a obesidade tende, naturalmente, a diminuir. Isto ocorre não por um pretendido déficit calórico primário, mas sim pelo restabelecimento gradual dos níveis adequados de insulina e pela diminuição da resistência dos seus receptores.


Sacarose e Amido, frequentemente um problema na Resistência à Insulina

Nota: Gostaríamos muito de poder utilizar estatísticas brasileiras para a maior parte dos nossos artigos, todavia, esta não é uma tarefa fácil. Se comparadas às estatísticas produzidas por países como os Estados Unidos da América, Austrália, Nova Zelândia e alguns países europeus, por exemplo, as estatísticas fornecidas pelo Ministério da Saúde do Brasil são muito precárias. Nesse órgão governamental brasileiro, muitas estatísticas parecem contemplar apenas aquilo o que circunda o que chamam de “políticas de saúde”, deixando um enorme vácuo científico que não é preenchido. Dito isto, fica aqui esclarecido o porquê de lançarmos mão de estatísticas produzidas em outras nações.

A Resistência à Insulina. Uma Epidemia que só cresce

Em uma variedade de estatísticas sobre a Insulino-Resistência, estima-se que cerca de uma em cada quatro pessoas, ou 25%, entre os norte-americanos são resistentes à insulina. Segundo o National Institute of Diabetes and Digestive and Kidney Diseases (Instituto Nacional de Diabetes e Doenças Digestivas e Renais) dos Estados Unidos, cerca de 3 em cada quatro americanos estão obesos. E aqui, novamente, surge a questão: A Obesidade é a causa da Resistência à Insulina, ou é o contrário? Isto é importante porque existe uma miríade de tratamentos para a obesidade que são completamente ineficazes para tratar a Resistência à Insulina.
Tratamentos anti-obesidade que contemplam o estabelecimento de um simples déficit calórico associado a exercícios físicos podem não estar abordando alguns fatores-chave para a redução da Insulino-Resistência.

Embora este assunto seja bastante extenso, focarei a atenção sobre o excesso de solicitação ao pâncreas para que este produza insulina, ou seja, sobre a sobrecarga pancreática. Sendo a Resistência à Insulina uma doença multifatorial e diretamente associada à alimentação, começaremos por esta última.

A Sacarose (Açúcar Branco, Açúcar de Confeiteiro, Açúcar Mascavo)

A Sacarose é uma molécula formada por Glicose e Frutose, extraída da Cana de Açúcar (Brasil) e da Beterraba (Europa) e que, depois de ingerida e metabolizada, rapidamente eleva os níveis da glicose sanguínea (Glicemia). Uma vez elevados os níveis da glicemia, o organismo intervém a fim de remover a glicose do sangue e utilizá-la como combustível energético. Esta tarefa é mediada pelo pâncreas com a produção de insulina. Caso haja mais glicose do que o necessário para realizar o trabalho energético, o corpo armazena a glicose excedente na forma de glicogênio no fígado e nos músculos e também em forma de gordura corporal. Todo este processo é mediado pela insulina. Ou seja, quanto mais sacarose houver na dieta, mais glicose haverá na corrente sanguínea, e mais e mais insulina será necessária para manter este processo ativo. Quanto mais açúcar se consome, seja açúcar branco, mascavo, de confeiteiro, etc..., mais insulina é liberada na corrente sanguínea, e isso aumenta a quantidade de gordura armazenada no corpo, a qual vai se excedendo (Obesidade e Gordura localizada).

A ingestão continuada do açúcar branco (sacarose) vai progressivamente alterando o funcionamento de glândulas endócrinas: pâncreas, supra-renais, hipófise e fígado (este órgão possui muitas outras funções). Isto é particularmente mais exuberante nos indivíduos que já possuem uma propensão hereditária para desenvolver a resistência à insulina. Solicitado pela hiperinsulinemia, o sistema glandular endócrino, com o tempo, entra em progressiva disfunção, e o pâncreas começa a perder a sintonia fina que existe entre os níveis de glicose (Glicemia), as quantidades de insulina produzidas, e o glucagon. O abuso de oferta de insulina faz com que, com o tempo, o individuo comece a experimentar a perda da eficácia da ação da insulina (Resistência a Insulina e Diabetes Melito).


Outros problemas de saúde relacionados à Sacarose

Dentre outros problemas, o uso contínuo de Sacarose (Açúcar branco) pode: Causar significativo aumento nos Triglicerídeos; elevar a Glicemia de jejum; causar Cáries Dentárias e Doença Periodontal; contribuir para a formação de Esteatose Hepática; causar Catarata; danificar o Pâncreas e os Rins; promover ganho excessivo de peso; causar Adições (vícios alimentares) e ainda influir negativamente na estabilidade do Humor. ¹

A despeito de tudo isto, no Brasil, por autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), a adição de açúcar (Sacarose) pelas indústrias está permitida em uma quantidade impressionante, e inacreditável, de alimentos. Alguns deles são: Pães (diversos), salames, salsichas, purês de batata instantâneos, linguiças, biscoitos, presuntos, apresuntados, temperos, ketchups, mostardas, peito de peru e de frango fatiados, lasanhas, hambúrgeres, produtos de lombo, molhos, caldos de carne, refrigerantes, sorvetes, bolos, iogurtes, cereais matinais, chocolates, steak de frango, conservas, sucos de frutas, achocolatados, salgadinhos empacotados, amendoins, barras de cereais, sopas, sardinhas em lata, maioneses, e a lista é bem, bem longa. Também por determinação da ANVISA, a Sacarose é estampada nos rótulos dos alimentos sob o nome de "Açúcar".

Esta aberrante adição de açúcar em tantos alimentos que são vendidos Brasil afora deve ser motivo de muito cuidado por parte do consumidor quando vai às compras. Recomendo observar atentamente os ingredientes de cada produto industrializado antes de comprá-lo. Em algumas embalagens, as letras são quase microscópicas. Portanto, se você usa óculos, não vá aos supermercados sem eles. E, se for necessário, leve também consigo uma boa lupa. Mas não deixe de examinar o conteúdo (ingredientes) dos alimentos que você compra.

A Sacarose (o açúcar branco) é o inimigo número um de quem possui Diabetes Mellitus, Resistência à Insulina, Obesidade e Cáries dentárias.

O Amido

No que diz respeito ao metabolismo humano, de modo bastante semelhante ao que ocorre com a Sacarose, o aumento da solicitação ao pâncreas para que produza muita insulina (hiperinsulinemia) se dá também na presença de Amido, principalmente nos produtos processados e industrializados.

Assim como o nosso organismo possui um carboidrato de reserva (o Glicogênio), os vegetais também o possuem (o Amido). O amido é, portanto, a reserva energética estocada em alimentos como o Trigo, o Arroz, o Milho e a Batata, para citar alguns.

Ocorre, porém, que em sua forma natural (integral) o amido não é nem concentrado e nem livre, mas se encontra associado à composição estrutural completa dos vegetais que o contém, ou seja, no arroz integral, nos grãos do milho, no trigo integral e nos grãos de aveia integral.

Quando processados, os grãos desses cereais (gramíneas) são refinados e industrializados na forma de farinha de trigo, amido de milho, arroz branco, etc. O amido de milho e a farinha de trigo são elementos presentes na fabricação de diversos alimentos, tais como: biscoitos, cereais matinais, pão, macarrão, bolos, mingaus e outros.

Assim como acontece com a Sacarose (açúcar-branco), ao ser ingerido e metabolizado, o amido é convertido em glicose, e todo o processo acima descrito em relação à Sacarose também ocorre com o Amido processado (industrializado), elevando rapidamente os níveis sanguíneos de glicose (Glicemia) e solicitando ao pâncreas que produza bastante insulina (hiperinsulinogênese).

A Importância do Índice Glicêmico dos Alimentos

A fim de prevenir e tratar a Resistência à Insulina, o Diabetes Melito e a Obesidade, é imprescindível que se conheça os índices glicêmicos dos principais alimentos que suscitam muita produção de insulina pelo pâncreas.

A velocidade de entrada dos carboidratos na corrente sanguínea não é a mesma para todos os alimentos desta categoria. Quanto mais rápido esses alimentos entram no sangue, mais rapidamente elevarão os níveis de Glicemia. Sabendo-se isto, classificam-se os alimentos tendo por critério a resposta insulínica. Isto se chama: Índice Glicêmico dos Alimentos.

Importante relembrar que o organismo não pode permitir que a glicemia se mantenha elevada na corrente sanguínea, pois isto pode trazer diversas consequências nefastas para diversos órgãos e sistemas: Microcirculação, sistema renal, olhos, cicatrização, coração, panículo adiposo, dentre outros.

São basicamente dois os referencias utilizados na classificação do Índice Glicêmico dos Alimentos: O pão branco – Índice Glicêmico = 100; e a Glicose – Índice Glicêmico = 100. Quanto maior o IG dos alimentos, mais estes afetarão a resposta insulínica.

Existem várias tabelas do Índice Glicêmico dos Alimentos, por isso não reproduzirei nenhuma delas neste artigo. Basta o leitor pesquisar na Internet. Citarei apenas alguns exemplos. Os dados aqui apresentados são da Escola Médica da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e possuem como referência o Índice Glicêmico da Glicose = 100.

Alimentos índice glicêmico IG > 70: alto; IG 55-70: moderado; IG <55: baixo

Alimentos com Alto IG em relação à Glicose = 100

Arroz Branco - IG = 89
Cornflakes™ - IG = 93
Purê de Batata - IG = 87
Waffles - IG = 76
Pão Baguete - IG = 95
Melão - IG = 72

Alimentos com Médio IG em relação à Glicose = 100

Banana - IG = 62
Spaghetti - IG = 58
Pipoca - IG = 55
Inhame - IG = 54

Alimentos com Baixo IG em relação à Glicose = 100

Maçã - IG = 39
Laranja - IG = 40
Lentilhas - IG = 29
Ervilhas - IG = 51

Como já dito acima, Obesidade, Resistência à Insulina e Diabetes Melito são tópicos complexos e que precisam ser bem avaliados e tratados de forma adequada. Caso necessite, converse com um especialista.

Dr Eduardo Adnet

Médico Psiquiatra e Nutrólogo

 

¹ Referências:
-Nancy Appleton PhD & G.N. Jacobs, 141 Reasons Sugar Ruins Your Health.
-Cerami, A, et al. “Glucose and Aging.” Scientific American.
-Scanto, S. and Yudkin, J. “The Effect of Dietary Sucrose on Blood Lipids, Serum Insulin, Platelet Adhesiveness and Body Weight in Human Volunteers.” Postgrad Med J.
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